segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ATIVIDADE DE VIVÊNCIA - ASSOCIAÇÃO LÉSBICA DE MINAS - ALEM

ENTREVISTA COM SORAYA MENEZES


Estivemos com Soraya Menezes na sede da ALEM no dia 16 de agosto de 2010. A partir de uma conversa informal, aprendemos muitas coisas interessantes sobre o Movimento LGBT em BH, principalmente no que diz respeito à defesa dos direitos das mulheres, independentemente de sua orientação sexual.

Ao longo da nossa conversa fomos aprendendo sobre as diversas atividades realizadas pelas mulheres da ALEM: palestras em escolas, participação no ProJovem, prevenção de DST junto às profissionais do sexo, oferta de cursos de formação de novas lideranças, organização de eventos, participação em cursos de formação de professores, etc.

Vamos, agora, falar mais detalhadamente sobre cada uma dessas atividades.

A ALEM tem uma atuação no Projeto BH de Mãos Dadas com a AIDS, onde representantes da ONG vão às escolas dar palestras para os alunos e professores. Segundo Soraya, é um momento muito importante no combate à AIDS e no debate sobre sexualidade feminina. Entretanto, um grave problema é o desinteresse dos professores pelo tema: na maior parte das vezes os professores saem da sala de aula e deixam os alunos sozinhos com a palestrante. Isso não é bom porque quem convive diariamente com os alunos são os professores e intervenções pontuais não substituem construções coletivas que se fazem no dia a dia, na sala de aula, na escola, na comunidade, etc.

Outra questão apontada pela coordenadora da ALEM é que a escola ainda tem uma postura muito tradicional, onde os professores são vistos como detentores do conhecimento, em uma educação bancária, como diria Paulo Freire. Seria mais interessante se os professores realmente considerassem que os alunos tem uma trajetória que é anterior à escola e que é muito rica e significativa porque possibilitaria aos professores aprender com seus alunos sobre essas vivências. Isso não somente em relação à sexualidade, mas também sobre diversos outros assuntos que fazem parte do cotidiano dos estudantes: trabalho, amizades, lazer, violência, etc. Isso sem falar no currículo oculto que acaba perpetuando a exclusão e a heteronormatização de forma muito velada. Isso acaba acarretando um isolamento social das lésbicas que pode acabar em suicídio, o que não é raro.

A ALEM também participa do PROJOVEM ministrando oficinas sobre gênero, raça e movimento feminista (suas correntes).

Outro trabalho importante é junto às lésbicas que atuam como profissionais do sexo. Este trabalho é feito nas casas de prostituição, onde são distribuídas camisinhas e as profissionais são ouvidas e orientadas sobre a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Há também a oferta de oficinas para formação de novas lideranças, na qual todas as mulheres podem contribuir. São, ao todo, três equipes: formação, divulgação e serviços gerais. Nesse contexto, ninguém é melhor, todas as mulheres são iguais. A maioria das mulheres são negras e exercem profissões diversas: celetistas, concursadas, profissionais liberais, voluntárias.

Sobre o público associado da ALEM, a maior parte é de classe trabalhadora. Provavelmente, isso se deve ao fato de que as classes que lutam mais pelos seus direitos já estão na posição de frente de luta. Por isso, mulheres trabalhadoras, ao entrarem para a ALEM, dão continuidade para algo que já fazem no dia a dia.

Perguntamos para Soraya se as mulheres tem assumido sua lesbianidade. Segundo a Assessora Política da ALEM, há situações em que o armário é necessário: a pessoa é quem tem que decidir sobre sua visibilidade. Isso porque há muita pressão contra as lésbicas, inclusive colocando sobre seus ombros uma culpabilidade pela própria orientação sexual. Por isso, ter visibilidade não é tão fácil e cada mulher tem o direito de decidir sobre falar ou não da sua privacidade.

Uma das razões para tanto preconceito é que, em uma sociedade androcêntrica, é quase proibido pensar que uma mulher pode ter prazer sem um homem. Uma vez que duas mulheres sentem prazer sem a presença do homem, isso mostra que as mulheres são independentes na expressão da sua sexualidade e muitos homens e até mesmo muitas mulheres não aceitam isso porque estão acostumados a pensar a partir de uma visão machista, androcêntrica.


MOVIMENTO LGBT E ARTICULAÇÃO COM OUTROS MOVIMENTOS SOCIAIS

O Movimento LGBT defende um Estado laico para todos e todas. Esse posicionamento está de acordo com a nossa Constituição Federal e quer dizer que nenhuma religião deve interferir nos assuntos do Estado. O Estado laico não significa abolir as religiões da sociedade. Pelo contrário, é justamente por não adotar nenhuma religião que o Estado laico representa a diversidade de crenças, ou seja, nenhuma crença é considerada melhor ou pior e nenhuma decisão do Estado é influenciada por um dogma específico. Infelizmente, ainda vivemos em um país onde as práticas religiosas interferem sobremaneira nas deliberações do Estado, retirando da sociedade o poder de decisão sobre assuntos importantes como o aborto, o uso de anticoncepcionais, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de menores por casais homossexuais.

Sobre o aborto, este não é defendido como modo contraceptivo. É defendido como algo que já existe e que é uma prática que reflete a desigualdade social. Sabe-se que é muito doloroso para a mulher fazer o aborto. O que o Movimento LGBT defende é pensar criticamente e responsavelmente o aborto.

Sobre a criminalização do aborto, o Movimento LGBT também percebe isso como uma nova forma de punir e culpabilizar as mulheres. No caso, se uma mulher é pega em uma clínica clandestina de aborto, ela é presa mas nada acontece com o homem que a engravidou.

Atualmente, o Movimento tem tentado participar das Conferências de Saúde, com o objetivo de problematizar, junto aos médicos, o atendimento à comunidade LGBT. Há muitos casos de preconceito contra mulheres, por exemplo, nos exames ginecológicos. Muitos médicos são preconceituosos e, por isso, o Movimento LGBT tem como meta tirar o estigma e deixar claro para a comunidade médica que homossexualidade não é doença.

Paralelo a tudo isso, a ALEM também está atenta para os crimes cometidos contra as mulheres. Segundo Soraya, todo dia é divulgado um crime cometido contra mulheres. Na divulgação, é comum que o crime seja atribuído a um "acidente" ou que a mulher seja colocada com a culpada pela própria morte, ou merecedora da própria morte.

Soraya lembra que a ALEM tem realizado vários eventos no decorrer do ano e convida para a palestra que acontecerá no dia 18 de setembro com Cláudia Mayorga, professora da UFMG. Além disso, lembra também do Seminário Internacional Olhares Diversos, que acontecerá em outubro deste ano e contará com personalidades do mundo inteiro.

Para quem quiser conhecer a Associação Lésbica de Minas:


Rua da Bahia, 573 / Sala 703
Telefone: (31)3267-7871

Para saber mais sobre o Seminário Internacional:


BREVE HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO ALEM

Associação Lésbica de Minas foi fundada em 1997 por um grupo de mulheres trabalhadoras na área da educação, saúde, bancarias e militantes de entidades sindicais, com o objetivo de assumir a lesbianidade feminista como postura política para desconstruir o patriarcado como sistema de opressão com suas instituições e ideologias.

A Missão da Associação Lésbica de Minas : Ser Referência na luta contra o preconceito, a discriminação dirigidos às lésbicas e bissexuais femininas, por direitos reprodutivos e sexuais das mulheres, combater toda forma de violência contra as mulheres. Promover a Visibilidade Lésbica, lutar contra as desigualdades e injustiças sociais as quais as mulheres são as principais vítimas.

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